A EPÍSTOLA AOS GÁLATAS E O SÁBADO

Alguns dos nossos ouvintes escrevem-nos, pedindo uma resposta sobre certas passagens da epístola de Paulo aos Gálatas, que parecem contradizer a observância do sabat, o 7º dia da semana ou seja o sábado. A prova, dizem eles, está no que Paulo escreveu aos Gálatas censurando--os por observarem os dias, os meses, os tempos e os anos. Sendo assim, não temos mais o dever de guardar um dia em particular, o que nos permite repousarmo-nos num dia à nossa escolha.

A Galácia fazia parte da Ásia Menor, na actual Turquia. Mas quem eram os Gálatas? Eram grupos de Gauleses vindos da Europa, que invadiram a Ásia Menor até às cidades da costa grega. Foram empurrados para o centro da Bitínia, pelo rei Antíoco da Síria, por volta do ano 270 antes de Cristo. Destes acontecimentos, nasceu a Galácia, de onde os seus habitantes tiraram o nome da sua origem gaulesa. Mais tarde, em 189-188 antes de Cristo, Roma invadiu esse país, e acabou por lhe deixar a sua autonomia. No ano 25 da nossa era, a Galácia passou a pertencer aos Romanos, sob o imperador Augusto. Por volta do meado do primeiro século da nossa era e graças à paz imposta por Roma, Paulo pôde ir evangelizar esse país. Quando os Gauleses chegaram à Ásia Menor, levavam com eles os seus deuses, os seus costumes, as suas crenças e superstições. Mas entretanto, uma pequena parte de entre eles ouviram a pregação de Paulo e converteram-se ao cristianismo. Paulo tomou conhecimento da existência de alguns problemas no seio de certas congregações, daí a necessidade de enviar uma carta a esses Gálatas convertidos, entre os quais se encontravam alguns Judeus ligados ao cristianismo, que queriam guardar uma parte dos seus rituais. É por isso que Paulo fala da fé, da salvação e das obras da lei, incluindo a circuncisão, mas não das festas anuais de Deus, nem dos sábados semanais. Esses cristãos da Galácia deixaram-se influenciar por um grupo de falsos irmãos (Gálatas 2:4) e pouco depois voltavam para os seus antigos costumes, para as suas crenças e superstições. Assim, o reino de Deus deixava pouco a pouco de ser a sua prioridade. Por esta razão, Paulo censura-os e admira-se de tão depressa se desviarem do verdadeiro Evangelho. Leiamos o que ele escreveu: «Maravilho-me de que, tão depressa, passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo, para outro evangelho. O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo» (Gálatas 1:6-7). Vemos que Paulo se lança directamente, no centro do problema, ou seja, nesse desvio rápido para outro evangelho. Nesta passagem, a palavra grega original traduzida por «transtornar», tem o sentido de perverter, corromper ou alterar. Já no ano 52, se desviavam do verdadeiro Evangelho, procurando transformá-lo. Ainda hoje, a Boa Nova do Reino de Deus, aquela que foi trazida por Jesus Cristo e que é o Evangelho, continua a ser transformada. Algumas igrejas afirmam que elas são o Reino, outras afirmam que o reino está no coração dos homens, ou que é no céu, mas não onde ele será na realidade, ou seja, na Terra com Cristo e os seus santos reinando em Jerusalém. A expressão: Evangelho de Cristo, implica directamente um proprietário. É o Evangelho de Cristo, a Sua mensagem. Ele é o mensageiro que Deus enviou sobre a Terra. O Evangelho não se refere a Ele ou à sua pessoa, Paulo acrescentou: «Mas, ainda que nós mesmos, ou um anjo do céu, vos anuncie outro evangelho, além do que já vos tenho anunciado, seja anátema» (Gálatas 1:8,9). Que seja anátema é o mesmo que dizer, que seja amaldiçoado!

Conhecendo a importância do verdadeiro Evangelho, Paulo pronuncia duas maldições. Apenas existe um verdadeiro Evangelho, o que Cristo veio anunciar. Se alguém pregar outro, por exemplo sobre a personagem de Cristo e não sobre a Sua mensagem, colocar-se-á sob essas maldições. Paulo volta à mensagem que nos interessa para esta emissão. Ele diz aos cristãos da Galácia: «Mas quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses. Mas agora conhecendo deus, ou antes, sendo conhecidos de Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos, pobres, aos quais de novo quereis servir?» (Gálatas 4:8-9). Paulo recorda-lhes, que antes da conversão, não conheciam Deus e que por isso, adoravam deuses imaginários, falsos deuses, enquanto que agora eles pensam ser cristãos convertidos. E porque eles, hoje, se consideram cristãos, discípulos de Cristo e que foram assim conhecidos por Deus, que os chamou ao conhecimento da verdade, como podem de novo voltar às suas antigas crenças e práticas pagãs, a todos esses falsos deuses sem valor algum? Paulo continua: «Guardais dias, meses, tempos e ano.» (Gálatas 4:10). Mas isto, nada tem em comum com os sábados semanais e anuais, porque antes da sua conversão eles ignoravam este facto. Muitos dos que utilizam esta passagem, têm muito cuidado em não citar a passagem: «Mas quando não conhecíeis Deus (antes da conversão, antes de terem o conhecimento dos sábados semanais e anuais) servíeis aos que por natureza não são deuses».

Paulo censura-os por quererem voltar de novo ao paganismo, ou seja, ás suas antigas crenças e superstições. Porque lhes pergunta: «Voltais de novo a esses falsos deuses, aos rituais e aos seus dias e tempos e anos?». Antes de continuarmos, é bom recordar, que na igreja dos Gálatas não havia somente antigos pagãos, mas também Judeus convertidos ao cristianismo. Paulo dirige-se assim, a dois grupos de pessoas. Antes de mais, para os Judeus convertidos, que conheciam Deus e a Sua lei, Paulo utiliza o pronome «nós». Esta diferença deve ajudar-vos a compreender, porque razão Paulo, nesta carta, fala da circuncisão, nas obras da lei, rituais, etc., ao mesmo tempo que condena as crenças pagãs, o culto dos falsos deuses. No Grande Dicionário Universal do 19º século, publicado por Pierre Larousse, em 1866, encontramos a seguinte lista de divindades gaulesas: ABELIO, que tem o poder de curar; BELEN, que representa o Sol, etc.. A etimologia do nome BELEN conduz-nos ás palavras: BEL, BAAL, BELUS. Esta enciclopédia continua dizendo: «Os Gauleses, diz César, reconhecem Mercúrio, Apolo, Júpiter, Marte, Minerva. As suas crenças para com as divindades são quase a mesma coisa que as crenças dos outros povos».

Os Gauleses, aos quais Paulo dirige uma parte da sua carta, não conseguem abandonar as suas antigas práticas. Assim, voltavam ao paganismo e voltavam a observar cada um dos dias da semana em honra dos seus deuses, pois deram a cada um dos dias, o nome de uma divindade, por exemplo: ao domingo chamaram-lhe o «dia do Sol», em inglês, holandês e em alemão respectivamente: Sunday, Zondag, Sontag. É o dia do senhor BAAL, que é representado muitas vezes com um arco solar em volta da cabeça.

Segunda-feira: dia da Lua ou da rainha do céu.

Terça-feira: o dia de Marte, deus da guerra.

Quarta-feira: o dia de Mercúrio, o mensageiro ou o enviado dos deuses.

Quinta-feira: o dia de Júpiter, o rei dos deuses.

Sexta-feira: o dia de Vénus, ou da deusa do amor.

Sábado: o dia de Saturno, deus dos vinhateiros e dos lavradores.

Foram também os pagãos, que deram nomes aos meses:

Janeiro: celebração em honra a Jano, o deus dos deuses.

Fevereiro: mês de expiações a favor dos mortos.

Março: celebração em honra do deus da guerra.

Maio: celebração em honra da deusa Maia, mãe de Mercúrio.

Hoje, muitas pessoas vêm no mês de Maio, o mês de Maria e em Junho o mês da celebração do coração de Jesus, a que chamam o sagrado coração.

Paulo menciona também os tempos! Quem é que observava as Calendas, as Nonas, os Idos, as Saturnais e os tempos do Advento? Os pagãos, e não os verdadeiros cristãos. Deus nunca deu nomes de falsos deuses ou planetas aos dias criados, por Ele, os dias foram simplesmente numerados. Ao analisarem, com toda a sinceridade, estas passagens, com facilidade constatais como é fácil alterar as Escrituras, retirando do seu contexto real, algumas palavras, frases ou versículos. É verdade que é fácil, mas é muito perigoso, pois o seu sentido fica completamente errado.

Em todas as suas epístolas, Paulo nunca deixou de afirmar que a lei continua em vigor. Mais de 60 anos depois da morte de Cristo, o apóstolo João confirmou a mesma coisa: «Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos e os seus mandamentos não são pesados» (I João 5:2-3). A maior parte dos cristãos falam do amor, pretendem ter o amor, mas rejeitam a definição bíblica do verdadeiro amor. Se o verdadeiro amor para com o próximo está em vós, se o amor que vem de Deus e que é dado pelo Espírito Santo estivesse em cada um de vós, então não continuariam a transgredir o quarto mandamento, que vos diz para recordarem o dia do repouso, para o santificardes. Recordai-vos do que escreveu o profeta Isaías: «Se desviares o teu pé do sábado e de fazer a tua vontade no meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares, não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falar as tuas próprias palavras, então te deleitarás no Senhor e te farei cavalgar sobre as alturas da Terra e te sustentarei com a herança do teu pai Jacob; porque a boca do Senhor disse» (Isaías 58:13-14).